O (meu) passado

Lembrei tudo por uns momentos. Sei que não fizeste por mal, mas gostava que a conversa tivesse parado ou mudado a partir do momento em que disse que não.
Passou-me tudo pela cabeça. Nunca ninguém conseguiu perceber o real manicómio em que vivi. Talvez não tenha sido tão grave, mas custou.
Lembro-me de entrar, sentir o cheiro normal daqueles sítios, e ser-me indicado o quarto onde teria de ficar. Lembro-me dos outros cheiros, dos sacos do lixo nas casas de banho, feitos de um plástico tão intenso que só de ter de entrar naquele tão pequeno espaço por 2 minutos me custava.

Nunca consegui dormir. Tinha medo. Era como um bicho papão ao meu lado todas as noites. Nunca me senti segura. Nunca me senti protegida. E depois da primeira vez falhada, aprendi a não confiar em ninguém.
Tinha medo dos corpos ao meu lado, atados aos seus próprios berços para que não caíssem. A primeira noite, os meus pais tão longe e tão perto. Já não era eu, com todos os braços furados por tentativas que não passaram disso, de tentativas.
Lembro-me da espera, na (lógica) sala de espera. Um tempo sufocante, onde praticamente estávamos todos em coma. Enfim.
Posso estar bem, hoje, mas não de todo.
Foi a primeira vez que escrevi sobre isto, com tão poucos pormenores. A culpa não é tua.

As melhoras Sara! Estamos à tua espera, aqui.