6 de fevereiro de 2010

*Biografia

As páginas não estão totalmente viradas, e é somente por isso que os nossos livros não cabem no lugar normal da nossa estante.
Os nossos álbuns de fotografias, das fotografias que fomos tirando ao longo dos nossos tempos, desde que nascemos, sem sequer percebermos este lugar estranho e imundo, estão quase cheios das lágrimas que deixas cair em segredo.
Nunca dei devido valor aos devidos momentos. E pondo-te de parte por uns míseros segundos, tenho saudades de saltar para a cama do meu irmão todos os sábados de manhã e de adormecer ao pé dos meus pais quando era ainda uma menina. Saudades das segundas-feiras de férias e saudades de percorrer convosco as estreitas ruas da melhor cidade do mundo.
Saudades de ainda ser alguém no meio de um grupo vasto e desejado, e saudades de poder confiar inteiramente em alguém. Saudades da verdade independentemente dos pequenos ou grandes erros. Saudades de alguém que apoiasse sem pôr nada pelo meio, deixando a estrada mais que vaga para mim. E saudades de ser eu a apoiar e sentir-me bem com isso.
Sim, tenho saudades dos abraços e beijos do "meu velho" quando me vinha puxar as mantas todas as noites, e apagar a luz do quarto. E ao mesmo tempo que surgem essas saudades, surge o medo de já nem o ter um dia para duas ou três palavras.
Saudades de passar em frente à paragem do autocarro de mão dada com a minha mãe, de mochila às costas, pronta para mais umas pequenas horas de aulas.
E com isto, saudades dos pequenos ensinamentos do meu irmão, de cultura geral. E lembro-me de ele um dia me dizer toda a verdade futura. Parece que tinha razão.
Tenho saudades de ter um alguém útil, e saudades de ser útil ainda para alguém.



Secalhar nem perdi nada. Talvez apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre. De certo.

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